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Entrevista: A Importância da Governança Corporativa para Startups – Uma Conversa com Eduardo Gomes, Founder da Board Ventures

Entrevistador – O que é governança corporativa e qual é a sua importância para as startups?

Eduardo Gomes – Governança proativa significa antecipação, organização e administração da empresa para garantir o seu crescimento com rentabilidade e sustentabilidade. A governança também permite que os stakeholders tenham seus interesses preservados e suas vozes ouvidas. Uma startup em rápido crescimento requer acesso igualmente rápido a fundos externos e a um custo administrável. Uma empresa vista como estável e capaz de mitigar possíveis ameaças conseguirá atrair investimentos em melhores condições do que outra com governança corporativa menos sólida. Em alguns setores, as startups podem até descobrir que seus investidores estão dispostos a pagar um prêmio se puderem contar com uma estrutura de governança robusta. Além disso, a implementação de medidas específicas, como a separação dos cargos de CEO e presidente do conselho, a adoção de um conveniente equilíbrio de poder por meio da contratação de conselheiros independentes e o reforço dos controles internos, contribuem para um desenvolvimento mais rápido e sustentável da startup.

Entrevistador – Quais são os principais princípios da governança corporativa que podem ser aplicados em startups?

Eduardo Gomes – Os princípios da governança aplicam-se a qualquer tipo de organização, independentemente de porte, natureza jurídica ou estrutura de capital. Se as melhores práticas podem não ser aplicáveis de forma universal, os princípios o são, formando o alicerce sobre o qual se desenvolve a boa governança. São eles:

Integridade

Para além de atuar em conformidade com as leis e regulamentos, os agentes de governança devem promover o contínuo aprimoramento da ética na organização, por meio da prática inequívoca e visível da coerência entre pensamento, discurso e ação, da lealdade à organização e da imparcialidade, evitando decisões sob a influência de conflitos de interesse.

Transparência

Consiste em disponibilizar para as partes interessadas informações verdadeiras, coerentes, claras e relevantes, sejam elas positivas ou negativas, e não apenas aquelas exigidas por leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à geração de valor sustentável no longo prazo para a organização. A promoção da transparência favorece o desenvolvimento dos negócios e estimula um ambiente de confiança no relacionamento com todas as partes interessadas.

Equidade

Caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas, levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas, como indivíduos ou coletivamente. A equidade pressupõe uma abordagem diferenciada conforme as relações e demandas de cada parte interessada com a organização, motivada pelo senso de justiça, respeito, diversidade, inclusão, pluralismo e igualdade de direitos e oportunidades.

Responsabilidade (Accountability)

Os agentes de governança devem desempenhar suas funções com diligência, independência e com vistas à geração de valor sustentável no longo prazo, assumindo a responsabilidade individual pelas consequências de seus atos e omissões. Além disso, devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, cientes de que suas decisões podem não apenas responsabilizá-los individualmente, como impactar a organização e suas partes interessadas.

Sustentabilidade

Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, natural, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos. Nessa perspectiva, compreende-se que as organizações atuam em uma relação de interdependência com os ecossistemas social, econômico e ambiental, fortalecendo seu protagonismo e responsabilidades perante a sociedade. 

Entrevistador – Como a estrutura de governança corporativa pode impactar o crescimento e o desenvolvimento de uma startup?

Eduardo Gomes – É fundamental ressaltar que governança é intrínseca a qualquer empresa – o que difere é a amplitude e a formalidade da governança, que deve se adequar a aspectos tais como o porte da empresa, a complexidade dos seus processos, sua natureza jurídica e o ambiente regulatório em que ela está inserida. Quer dizer, a estrutura de governança deve ser proporcional à fase em que se encontra a startup – por exemplo, numa startup em early stage pode bastar a contratação de um advisor externo que traga conhecimentos faltantes aos founders; mais adiante, à medida que a startup cresce, esse advisor pode vir a compor um conselho consultivo juntamente com os founders, o qual, após o IPO eventual da startup, se transforma em um conselho de administração com a participação de acionistas, investidores e conselheiros independentes.

Entrevistador – Quais são os principais desafios enfrentados pelas startups na implementação de boas práticas de governança corporativa?

Eduardo Gomes – A expectativa convencional é de que a governança seja de responsabilidade exclusiva do conselho e da administração executiva da empresa. No entanto, o ambiente de negócios altamente complexo que caracteriza o estado atual da economia requer a colaboração ou a influência de outros stakeholders, como clientes, colaboradores e investidores. Engajar todos esses atores é um senhor desafio.

Entrevistador – Quais são os papéis e responsabilidades do conselho consultivo em uma startup?

Eduardo Gomes – O conselho consultivo é o órgão colegiado encarregado do processo de apoio a uma startup em relação ao seu direcionamento estratégico através de recomendações responsáveis e pertinentes. Cabe ao conselho consultivo ter um olhar de longo prazo e desafiar continuamente a equipe fundadora a olhar para frente e para fora.

Entrevistador – Como a governança corporativa pode ajudar a atrair investidores e parceiros estratégicos para uma startup?

Eduardo Gomes – Uma empresa vista como estável e capaz de mitigar possíveis ameaças conseguirá atrair investimentos em melhores condições do que outra com governança corporativa menos sólida. Em alguns setores, as startups podem até descobrir que seus investidores estão dispostos a pagar um prêmio se puderem contar com uma estrutura de governança robusta.

Entrevistador – Quais são as melhores práticas para a transparência e prestação de contas em uma startup?

Eduardo Gomes – Comunicação aberta, estabelecimento de metas e métricas claras, acesso à informação, transparência financeira, reuniões regulares, feedback e avaliação de desempenho, políticas e procedimentos claros, responsabilização e transparência na tomada de decisões, gestão à vista, cultura de aprendizado e melhoria, tolerância ao erro, dentre outros. E a mais importante de todas por parte dos líderes: EXEMPLARIDADE (“walk the talk”).

Entrevistador – Como as startups podem equilibrar a agilidade e a flexibilidade necessárias para inovar com a necessidade de estabelecer estruturas de governança mais formais?

Eduardo Gomes – O ideal é que a governança seja construída gradualmente, desde as fases iniciais da startup, passando por seus primeiros esforços de financiamento e busca por capital de risco. Quanto mais cedo, melhor, e a abordagem deve ser proporcional à fase em que a startup se encontra. Não faz sentido, por exemplo, estabelecer um plano estratégico nos estágios iniciais da startup; por outro lado, faz todo sentido proteger a marca ou uma propriedade intelectual desde o início de forma a erigir uma barreira de entrada à concorrência.  Adotar a abordagem correta para desenvolver estruturas proporcionais de governança corporativa em empresas jovens em rápido crescimento é um ato de equilíbrio entre permitir a tomada de decisões enxuta e ágil, por um lado, e fornecer níveis suficientes de supervisão da estratégia e dos controles internos da empresa, por outro.

Entrevistador- Quais são os possíveis benefícios financeiros e não financeiros de uma startup que adota uma boa governança corporativa?

Eduardo Gomes – Benefícios financeiros:

  • Acesso a capital: Uma governança sólida e transparente aumenta a confiança dos investidores, facilitando o acesso a capital externo. Investidores institucionais e de capital de risco costumam dar preferência a empresas com uma estrutura de governança bem estabelecida.
  • Avaliação e valorização: Empresas com boas práticas de governança geralmente são percebidas como mais atraentes pelos investidores e podem alcançar uma melhor avaliação de mercado. Uma governança eficaz pode aumentar a percepção de risco-recompensa pelos investidores, resultando em um maior valor de mercado para a startup.
  • Menor custo de capital: A transparência e a prestação de contas melhoradas podem levar a uma redução nos custos de capital, uma vez que os investidores têm maior confiança na empresa e exigem menor retorno para investir. Isso pode ser especialmente relevante ao buscar financiamento por meio de empréstimos ou emissão de títulos.
  • Acesso a parcerias estratégicas: Uma governança corporativa robusta pode atrair parceiros estratégicos, como empresas estabelecidas e instituições financeiras, que estão mais propensos a colaborar com empresas que têm práticas sólidas de governança.

Benefícios não financeiros:

  • Reputação e confiança: Uma startup com uma boa governança estabelece uma reputação sólida no mercado. Isso gera confiança entre os investidores, clientes, fornecedores e demais partes interessadas, fortalecendo a posição competitiva da empresa.
  • Atração e retenção de talentos: Empresas com boas práticas de governança costumam ser mais atraentes para profissionais talentosos, que buscam uma cultura corporativa transparente e ética. Isso pode ajudar na atração e retenção de funcionários qualificados, impulsionando o crescimento e a inovação da startup.
  • Redução de conflitos internos: Uma estrutura de governança adequada estabelece claramente os papéis, responsabilidades e direitos dos acionistas, diretores e gestores. Isso ajuda a prevenir e resolver conflitos internos de forma eficaz, proporcionando estabilidade e direcionamento para a empresa.
  • Sustentabilidade a longo prazo: Uma startup com uma governança sólida tem mais chances de ser sustentável a longo prazo. As práticas transparentes e responsáveis ajudam a evitar escândalos, problemas legais e danos à reputação, garantindo a continuidade das operações e a construção de relacionamentos duradouros com os stakeholders.

Entrevistador – Quais são os passos iniciais recomendados para uma startup implementar um sistema de governança corporativa eficaz?

Eduardo Gomes – Implementar um sistema de governança corporativa eficaz em uma startup requer um processo cuidadoso e estruturado, que é a base da metodologia Lean Governance:

  • Compreender a governança: conscientizar-se dos benefícios e conhecer os princípios e melhores práticas de governança. Isso envolve entender os pilares da governança e conhecer exemplos de startups de sucesso que adotaram uma boa governança. A metodologia Lean Governance estabelece níveis de aprendizagem, desde fundamentos da governança até casos reais de startups e estudos de caso baseados em cases reais.
  • Avaliar a situação atual: realize uma avaliação interna da situação atual da startup em relação à governança. Identifique as áreas em que a governança pode ser fortalecida ou melhorada, como estrutura de propriedade, direitos e responsabilidades dos acionistas, tomada de decisões, prestação de contas, entre outros. A aplicação prática da metodologia Lean Governance começa com um autodiagnóstico do nível de maturidade da governança da startup.
  • Estabelecer uma estrutura adequada: defina a estrutura de governança corporativa que melhor se adapte às necessidades e objetivos da startup. A metodologia Lean Governance propõe estruturas proporcionais à fase em que se encontra a startup.
  • Desenvolver políticas e procedimentos: elabore políticas e procedimentos formais que irão reger as atividades da startup. Essas políticas devem ser claras, documentadas e comunicadas a todos os envolvidos. O Lean Governance fornece um toolkit abrangente, voltado às possíveis necessidades de cada fase da startup.
  • Promover a transparência e a prestação de contas: estabeleça um ambiente de transparência, em que as informações relevantes sejam comunicadas de forma clara e acessível a todos os stakeholders envolvidos, como acionistas, clientes, investidores e colaboradores. Estas boas práticas são enfatizadas e demonstradas no Lean Governance Canvas©.
  • Capacitar e incentivar a equipe: forneça treinamento e capacitação contínuos e adequados para os membros da equipe, inclusive NA PRÁTICA, para que compreendam os princípios e práticas de governança e possam implementá-los de maneira eficaz. A metodologia Lean Governance e o subsequente programa Lean Board na Prática instituem a jornada da governança, desde os fundamentos da governança até as necessárias atualizações de acordo com os cenários regional e global.
  • Monitorar e adaptar: governança é uma jornada sem fim. Estabeleça um sistema de monitoramento contínuo para avaliar a eficácia das práticas de governança implementadas. Faça ajustes e melhorias conforme necessário, com base em feedback, mudanças no ambiente regulatório e aprendizados adquiridos ao longo do tempo. A metodologia Lean Governance, implantada em dezenas de startups em fases diversas, é adequada para acompanhar essa jornada indefinidamente.

Considere que a implementação eficaz da governança leva tempo e requer o comprometimento de todos os envolvidos. É importante adaptar as práticas de governança às necessidades específicas da startup e estar disposto a evoluir conforme a empresa cresce e se desenvolve. Try Lean Governance.

EDUARDO GOMES – Conselheiro. Membro de conselhos. Advisor. Estrategista. CEO. Executivo C-Level. Mentor de Governança Corporativa, Diretor de empresas multinacionais, dirigente de empresas de grande e médio porte nos segmentos de Varejo e Industrial, B2B / B2C / O2O. Investidor, Advisor e Mentor de startups. Conselheiro de CVBs.

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